quinta-feira, maio 29, 2008

Terra Sonâmbula

Valente Malangatana - Sem título

- Por que mentiste sobre mim?, lhe perguntei.
- Porque não queria que fosses.
- Mas eu não vou embora, Carolinda.
- Não acredito, isto não é terra de ninguém ficar. Vais partir, tu não pertences aqui.
- Mas por que razão me soltas, então?
- Para que vás para tão longe que pareças impossível. E agora vai-te e não voltes nunca mais.
Depois, me empurrou com suavidade. Mas eu resisti, me demorando junto dela. Assim, de face em riste, ela me surgia exclusivamente única, triste como pétala depois da flor. Meu peito se encheu. Eu sei que em cada mulher a gente lembra outra, a que nem há. Mas Carolinda me entregava essa doce mentira, o impossível cálculo do amor: dois seres, um e um, somando o infinito. Se aproximou e me acariciou os braços, ali onde as cordas me doeram. A cintura de suas mãos me afagavam, em suave arrependimento. Aquele momento confirmava: o melhor da vida é o que não há-de vir.

in “Terra Sonâmbula” - Mia Couto


9 comentários:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

:)

Ana disse...

cada pedaço da escrita do Mia Couto é tão cheia, tão intensa... já estou com saudades de o ler e assim deu para matar um pouco essa saudade;) 'brigada *

Som do Silêncio disse...

Tão bonito...
:)

Beijo terno

Andreia disse...

São os sonhos, portanto...
Beijinho

Toze disse...

Frases que ficam : "O melhor da vida é o que não há-de vir."

Abraço de um Poveiro :)

scaramouche disse...

:)

gostei.

scaramouche.

un dress disse...

é:

a perfeita.

.perfeição do que

imanece:

como

se ~

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JFDourado disse...

Quem nunca leu este livro não sabe o que está a perder… :)

Obrigado a todos pelos comentários.