domingo, janeiro 28, 2007

Me gustas cuando callas

William A Bouguereau - Seated Nude


Me gustas cuando callas porque estas como ausente,
y me oyes desde lejos y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mia.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolia.
Me gustas cuando callas y estas como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también com tu silencio
claro como una lámpara,
simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de una estrella,
tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda - Me gustas cuando callas

sábado, janeiro 20, 2007

Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas


Pierre Puvis de Chavannes - The Detail Imagination


Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas

E perfuma-as com o odor da sua lenta vulva

Ela tanto pode ser uma fêmea da lua com uma rapariga solar

Nas suas ancas ondula um indolente Outono e nos seus seios desponta a primavera.


Eu vejo-a e não a vejo na brancura da página

porque ela flutua vagamente na distância como uma lua no meio-dia

Mares bosques clareiras fontes em delicadas e delgadas linhas

Flúem com o fulgor dessa mulher azul

As palavras caminham com o ritmo fresco dos seus pés descalços

Sobre uma praia fulva de conchinhas brancas

O seu hálito doce embriaga as leves sílabas

E a doçura do seu lábio impregna as frases nuas

Ela é a presença ausente corpo de aragem viva

E a sua felicidade é tão vaga como vaga a sua longínqua imagem


António Ramos Rosa - Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas

sábado, janeiro 06, 2007

O Pastor Amoroso


Girl with a Pearl Earring - Jan Vermeer


Quando eu não te tinha

Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...

Agora amo a Natureza

Como um monge calmo à Virgem Maria,

Religiosamente, a meu modo, como dantes,

Mas de outra maneira mais comovida e próxima...

Vejo melhor os rios quando vou contigo

Pelos campos até à beira dos rios;

Sentado a teu lado reparando nas nuvens

Reparo nelas melhor —

Tu não me tiraste a Natureza...

Tu mudaste a Natureza...

Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,

Por tu existires, vejo-a melhor, mas a mesma,

Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,

Por tu me escolheres para te ter e te amar,

Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente

Sobre todas as coisas.

Não me arrependo do que fui outrora

Porque ainda o sou.


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

E vendo-a sempre de maneiras diferente do que a encontro a ela,

Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,

E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.

Amar é pensar.

E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.

Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.

Tenho uma grande distracção animada.

Quando desejo encontrá-la

Quase que prefiro não a encontrar,

Para não ter que a deixar depois.

Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só

Pensar nela.

Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


in "O Pastor Amoroso" - Alberto Caeiro