quarta-feira, janeiro 16, 2008

Saudades


Jules Pascin - Femme en Robe Rose

Magoa-me a saudade

do sobressalto dos corpos

ferindo-se de ternura

dói-me a distante lembrança

do teu vestido

caindo aos nossos pés


Magoa-me a saudade

do tempo em que te habitava

como o sal ocupa o mar

como a luz recolhendo-se

nas pupilas desatentas


Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,

tua noite sem remédio

tua virtude, tua carência

eu

que longe de ti sou fraco

eu

que já fui água, seiva vegetal

sou agora gota trémula, raiz exposta


Traz

de novo, meu amor,

a transparência da água

ocupação à minha ternura vadia

mergulha os teus dedos

no feitiço do meu peito

e espanta na gruta funda de mim

os animais que atormentam o meu sono



Mia Couto - Saudades

9 comentários:

un dress disse...

puríssimo

:

como água

vegetal

.

.

.


ou maciez

de veludo

.

.

.



~

Ana disse...

já viste que daqui a um mês vai estar por terras poveiras no correntes d'escritas?!ele e muitos mais :D

JFDourado disse...

Vai?! não sabia. e o Luís Sepúlveda? o José Eduardo Agualusa? este ano também vêm cá? Hum, vou procurar a lista...

(:

Anónimo disse...

Apenas deixo aqui desenhado um sorriso...

Claudia Sousa Dias disse...

Espero encontar-te a ti e ao Mia também nas "Correntes"...


CSD

JFDourado disse...

vou tentar aparecer por lá

(:

Andreia disse...

Belo! :)
***

Claudia Sousa Dias disse...

Lindo.


Dá vontade de ficar horas aqui a ouvir esta musica de fundo...

Belíssima...

Puríssima...



CSD

ROSASIVENTOS disse...

escolhi as sete letras sete varas sete vestes cor da carne

da carne branca tronco azul com marca rosa
em brasa


para sempre para sempre sempre sempre e sempre

para