sexta-feira, abril 30, 2010

Há-de flutuar uma cidade no crepusculo da vida






Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu… como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos… sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta… dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade

Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida - Al Berto

7 comentários:

Nirvana disse...

Lindo!
Não conheço muito de Al Berto, umas coisas espalhadas. Aliás, já tinha lido uns poemas dele e tinha-os achado muito tristes. Na altura não fiquei muito entusiasmada pela sua obra; há alturas em que não queremos ler coisas tristes!
Mas agora estou curiosa em relação à sua obra! Lá irei investigar na próxima ida à livraria.
(Mas, se calhar, é melhor não usar o teu método, ou então levar uma garrafinha de oxigénio escondida ;)
Beijinhos

JFDourado disse...

Humm desconfio que com garrafinha de oxigénio o método não resulta, mas pronto, se é para investigar os livros de Al Berto é possível abrir uma excepção. Mas tem cuidado, ok?! Essas incursões requerem extrema precaução!!! ;D*

addiragram disse...

Obrigada Jorge por este duplamente belo momento...

JFDourado disse...

Bom, as alvíssaras devem ser dirigidas a Al Berto mas eu agradeço na mesma! ;)

pin gente disse...

lindíssimo...
fiquei com um nó na garganta que desatarei noutro local.
uma lágrima presa nos olhos rasos de mar.
não sei se há uma cidade que flutua, mas sei que estou ainda a flutuar.
e talvez o crepúsculo da vida me esteja a procurar.

um abraço
luísa

JFDourado disse...

Obrigado, Luísa, por este pedacinho de poesia que aqui nos deixas :)*

Didática do Silêncio © disse...

al_berto... o génio desconhecido.