Quando era miúdo, sempre que podia, saia para o jardim. Adorava aquelas longas e quentes tardes de Verão deitado na relva fresca a observar as nuvens que passavam. Gostava de anotar no meu caderno de capa negra o que ia encontrando em cada uma delas. Um cavalo a galope. O D. Afonso Henriques de espada em punho a atacar os mouros. O rosto da bela Maria, minha colega de carteira da primária. O Gomes pronto a marcar mais um golo ao Benfica… Havia sempre um significado para todas. Hoje, no céu, vejo nuvens. Umas brancas, outras mais cinzentas, mas todas elas apenas nuvens. Quem me dera que não fosse assim. Se pudesse escolhia, em todas, ver-te a ti. Surgias num vestido de Sol debruado a Beijinhos do Mar. Entre os cabelos floriam graciosas Camélias vermelhas. E dezenas de Andorinhas guardariam os teus passos… Como posso esquecer-te, Amor? Porque partiste levando contigo toda a luz que me restava? Eram os teus lábios que me traziam as palavras mais doces. Nos teus braços encontrava o refúgio, o aconchego. E o calor do teu corpo moldado ao meu… Lá fora, numa dança sincronizada e alheios a tudo, estão os Girassóis. Da minha janela observo-os. Como giram devagar os Girassóis… E por cada nuvem que cruza o céu, nasce nos meus olhos uma lágrima pela tua ausência.
JFDourado – As nuvens – 27/03/2008