Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida
Mia Couto – Para ti
10 comentários:
belíssiMo!
/não conhecia poesia
de mia couto...!
:)
Muito bom.
Obrigado pelo encontro!
Eu também não conhecia :)
Aliás, ultimamente tenho andado a descobrir Mia Couto. Estou a ler o “Terra Sonâmbula” e vou confirmando o que pensava… que já o devia ter lido há muito tempo.
Ora deixa-me cá pensar numa frase para o definir…
“uma bela prosa recheada com a poesia de um português deliciosamente re-inventado”.
Pronto, já está!
:)
"Para ti criei todas as palavras"
e não são poucas as que ele inventa, belíssimas :)
palavras que ainda não nasceram ;)
E as tuas quando renascem?
lindo!
Adoro Mia Couto.
Obrigada pela visita!
também não resisto a um bom chocolate...
CSD
Lis: Um dia destes pode ser que a inspiração regresse :)
CSD: Chocolate Côte d’Or, Lait ou Noir. Ambos levam o meu selo de recomendado ;)
Desconhecia este belíssimo poema de Mia Couto! Sabe bem ouvir pela primeira vez...
adorei sim, tocou um pouco o resto que sobre no meu peito...
preciso sentir coisas belas, estou muito amargurada.
bjs
e passa para me visitar...
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