terça-feira, março 06, 2007

Vertentes


Uriy Kakichev - The Sun in the Grass

As palavras esperam o sono

e a música do sangue sobre as pedras corre

a primeira treva surge

o primeiro não a primeira quebra


A terra em teus braços é grande

o teu centro desenvolve-se como um ouvido

a noite cresce uma estrela vive

uma respiração na sombra o calor das árvores


Há um olhar que entra pelas paredes da terra

sem lâmpadas cresce esta luz de sombra

começo a entender o silêncio sem tempo

a torre estática que se alarga


A plenitude animal é o interior de uma boca

um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio

sou o teu lábio e a coxa da tua coxa

sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo

sou a sombra que conhece a luz que a submerge


a luz que sobe entre

as gargantas agrestes

deste cair na treva

abre as vertentes onde

a água cai sem tempo


António Ramos Rosa – Vertentes


2 comentários:

hugo besteiro disse...

Tens um blog muito fixe!

catamita disse...

pois é! é engraçado que crias um ambiente propício para o tipo de poesia que mostras :)

Tb gosto muito do António Ramos Rosa.