quarta-feira, julho 29, 2009

Os Maias


The Kiss II - Gustav Klimt


Eles entravam, Carlos com algum livro que escolhera na presença de Miss Sara, Maria Eduarda com um bordado ou uma costura. Mas bordado e livro caíam logo no chão – e os seus lábios, os seus braços uniam-se arrebatadamente. Ela escorregava sobre o divã: Carlos ajoelhava numa almofada, trémulo, impaciente, depois da forçada reserva diante de Rosa e diante de Sara – e ali ficava, abraçado à sua cintura, balbuciando mil coisas pueris e ardentes, por entre longos beijos que os deixavam frouxos, com os olhos cerrados, numa doçura de desmaio. Ela queria saber o que ele tinha feito durante a longa, longa noite de separação. E Carlos nada tinha a contar senão que pensara nela, que sonhara com ela… Depois era um silêncio: os pardais piavam, as pombas arrulhavam por cima do leve telhado: e Niniche, que os acompanhava sempre, seguia os seus murmúrios, os seus silêncios, enroscada a um canto, com um olho negro reluzindo desconfiadamente por entre as repas prateadas.


in “Os Maias” – Eça de Queirós

8 comentários:

Ana disse...

ahh :) pensava q tinhas ido de férias ;)

Eça é extraordinário :D
apesar de saber o final, isso não retira a beleza a este pedaço :)
(beijo*=

JFDourado disse...

Ainda não, Ana, mas já falta pouco! :D*

moriana disse...

ainda tanto romantismo nos Maias...
uma obra notável, devorei-a na adolescência.

Esse beijo :)

Nirvana disse...

A primeira vez que (não) li os Maias, quando a isso fui obrigada no secundário, passei folhas e folhas à frente.
Mais tarde, enchi-me de coragem e decidi ler o livro, referência da literatura portuguesa. Depressa percebi que não precisava de muita coragem. Li-o de ponta a ponta. É realmente um livro excelente, uma obra intemporal, desde os amores proibidos até à crítica social.

Tenho por hábito transcrever algumas partes que gosto nos livros ou poemas para um caderninho (para não estragar os livros todos ao sublinhá-los :)). Dos Maias, uma das partes que transcrevi foi:
"A única coisa a fazer em Portugal é plantar legumes, enquanto não há uma revolução que faça subir à superfície alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerre lá no fundo". Ao que o avô respondia, já impaciente com esse diletantismo do neto, como se falasse em nome do autor:
-Pois então façam vocês essa revolução. Mas pelo amor de Deus, façam alguma coisa!"

Intemporal!
Excelente escolha, a tua.
Bjks

JFDourado disse...

Sim, Nirvana, de facto é impressionante como algumas das descrições que Eça faz neste livro de 1888 se podiam usar para ilustrar o que hoje em dia temos no nosso país. Então a parte dos políticos... ;)

Andreia disse...

gosto tanto tanto do Gustav Klimt :) *

purita disse...

e klimt é chiqu'a valer!:)

variasformasdearte disse...

Huummm
Excelente escolha de imagem... Klimt!!! :-)

Quero te agradecer pela tua visita no vfa, já vi que temos algumas coisas em comum... Klimt... Antony... e na adolescencia Faith no More... lol

És um poeta e um sonhador... É uma fórmula mágica! Existe o oposto?

Fica bem!

vfa