terça-feira, agosto 05, 2008
O pássaro de penas douradas e a bela do arco-íris
No alto do penhasco o pássaro de penas douradas perscruta o longe. Observa, compenetrado, todo o espaço que sua vista alcança. Sempre preparado para partir, procura por sinais do arco-íris. Desde que desvendou o seu segredo prometeu a si mesmo que assim que ele surgisse, formoso e pleno, voaria para junto dela. A sua bela do arco-íris. Seriam para ela os seus mais primorosos trinados, procurando-lhe sorrisos ausentes. Tudo isto porque no seu olhar se revelaram os mistérios do arco-íris. Descobriu que ele aí vivia, iluminando-a em luzentes cores. E só quando algumas lágrimas brotavam de seus olhos é que ele, renitente, deslizava também pela sua face, renascendo distante, onde desponta o horizonte. Nesse momento o pássaro de penas douradas chorou porque desejou o impossível. Por amor queria ser homem. Mas pela noite, na hora dos sonhos, ele alcança algum alívio no seu desassossego. Aí tudo é possível. Um sorriso aflora no seu bico, agora boca. Uma vez mais as amorosas palavras são pensadas, suspirando serem ditas. Ele, homem. Ela, a bela:
Um dia sussurrar-te-ei poemas de amor, minha bela do arco-íris. Quem nos esqueceu será esquecido. Seremos Amor e Alma, inventando somas e multiplicações. No bosque de faias cessará o lento caminhar das sombras. O alegre gorjear dos pássaros em suspenso. Estaremos isolados em nós. Unidos no amparo de tuas luminosas cores. No regaço encontrarei tua delicada mão com a minha. E assim, sentindo teu calor sendo também meu, aproximarei lentamente o meu rosto ao teu. Por um momento teus olhos encontrarão meus lábios. Depois, fechando-os, ficarás esperando os beijos que te darei. Entregue. E a quinta-essência da felicidade, cintilante, passará a adornar todos os nossos gestos…
Jorge Dourado - O pássaro de penas douradas e a bela do arco-íris – 05/08/2008
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