quinta-feira, dezembro 27, 2007

Os amantes sem dinheiro


William A Bouguereau - First Jewels

Tinham o rosto aberto a quem passava.

Tinham lendas e mitos

e frio no coração.

Tinham jardins onde a lua passeava

de mãos dadas com a água

e um anjo de pedra por irmão.


Tinham como toda a gente

o milagre de cada dia

escorrendo pelos telhados;

e olhos de oiro

onde ardiam

os sonhos mais tresmalhados.


Tinham fome e sede como os bichos,

e silêncio

à roda dos seus passos.

Mas a cada gesto que faziam

um pássaro nascia dos seus dedos

e deslumbrado penetrava nos espaços.


Eugénio de Andrade - Os amantes sem dinheiro

6 comentários:

addiragram disse...

Eterno, este! Sabe tão bem "ouvi-lo".

Claudia Sousa Dias disse...

Que belos Eros e psique no poema de Eugénio!

CSD

JFDourado disse...

o amor e a alma (:

un dress disse...

novo gesto a cada letra

ou

novo sabor a cada gesto

:

na boca

nos olhos

na superfície de ser

lento gesto

de ler.reLer




beijO :)

Anónimo disse...

Um abraço do teu irmão&companhia.

JFDourado disse...

Um abraço para ti, beijinhos para a companhia

(: