sábado, novembro 04, 2006

O poder absoluto


William A Bouguereau - Young girl defending herself from Eros

Duas bocas descobrem o veludo incandescente

e saboreiam o sabor perfeito de um fruto liso

que é um sumo do universo. Com a sua espuma constante

os amantes tecem uma abóbada leve de seda e espaço.

Vivem num volume cintilante o presente absoluto.


Corpos encerrados em superfícies delicadas

abrem-se como velas vermelhas e o calor brilha,

clareiras acendem-se numa tranquilidade branca,

os olhos embriagam-se de miríades de cores

e todos os vocábulos são recentes como o orvalho,


Criam a origem pela origem, num corpo duplo e uno,

transformam-se subindo morrendo em verde orgia,

inertes renascem de onda em onda radiantes,

reconhecem-se no vento que os expande e os dissolve,

o mundo é uma brecha um esplendor um redemoinho.


António Ramos Rosa - O poder absoluto


Sem comentários: